ESTADO


Tudo pronto

Cortando a avenida Borges de Melo, a Travessa Riachuelo nem chama tanta atenção. Mas ali, um sítio com cara de cidade de interior convida a esquecer a rotina do relógio e viver o tempo sob outra lógica. As bandeirolas coloridas disputam atenção com as inúmeras árvores frutíferas que sombreiam o lugar. É ali que a família Rogério faz nascer toda a criação da Quadrilha do Zé Testinha. Da pesquisa ao figurino, dos ensaios às festas.

 Aprovada no sexto edital público Prêmio Festejos Juninos de Fortaleza 2011, nas categorias quadrilha infantil e adulta (R$ 3.500 cada), a Zé Testinha vem se preparando desde janeiro para brilhar no São João. O cangaço é ponto de partida. “Já acusaram a Zé Testinha de sempre falar do mesmo tema. Mas o cangaço é muito rico, é uma mina inesgotável. Este ano faremos um ritual de transformação do cangaceiro para o brincante. Abordaremos a defesa da caatinga, a preservação do semi-árido e o conflito racial”, explica Ronaldo Rogério, responsável pela pesquisa.

 Comemorando 36 anos de trajetória, a quadrilha é encabeçada pelos seis irmãos da família Rogério. Zena leva o título de estilista do grupo. Rose cuida da quadrilha infantil e Zélia é a responsável pela parte financeira. Reginaldo é o coreógrafo e marcador. Há quatro anos no grupo, o estudante Rair Lima, 21, comenta porque gosta tanto de estar ali. “Aqui a gente se preocupa muito com o que está fazendo, nos preocupamos com a cultura e em dar continuidade a essa história”.
 Hoje, a Zé Testinha traz 48 dançarinos, com idade média de 18 anos, mais outros 10 que ficam na reserva. Destes, uma parte integra o grupo fixo de brincantes que se apresenta no Pirata Bar, todas as segundas-feiras, há 15 anos. Francisco Tainer Marcos, 46, é o dançarino mais antigo do grupo. Há 30 anos segue os passos da quadrilha e já chegou a perder emprego por conta de sua dedicação. “Aqui é uma paixão só. Viramos uma família, já perdi até emprego, mas não me arrependo não”, defende o dançarino. 




Amores, afetos e prazeres


O relacionamento estável – aquele, com direito ao posto de namorado(a) ou a anos de casamento – está no topo das estatísticas e dos sonhos dos fortalezenses quando o assunto remexe as questões afetivas.


Pesquisa sobre o perfil do morador de Fortaleza, encomendada pelo O POVO e realizada pelo Iepro, mostra que a maioria dos fortalezenses mantém relacionamento estável: no tempo do “eterno enquanto dure”, vivem 70,7% dos 600 entrevistados. A pesquisa tem margem de erro de quatro pontos percentuais.

Veja-se, por exemplo, o casamento da professora Leila Maria Frota Barros, 51 anos. Uma convivência que é bordada, há 30 anos (sem contar os oito de namoro), com o primeiro namorado. “A gente vai se perdoando e dialogando”, ensina aos pares que ouvem suas palestras no curso de preparação para noivos, na Igreja da Glória (Cidade dos Funcionários).
Há cerca de 15 anos preparando casais para os dias depois da festa, a professora repassa como ser fiel – e feliz – também na tristeza e na doença. Harmonia conjugal, vivências domésticas, sexualidade humana e planejamento familiar são alguns dos capítulos do casamento, apresentados por dona Leila e sua equipe de bem casados. “O curso é baseado na nossa experiência”, reforça. E, sim, ela faz questão de dizer: “Sou muito bem casada... Faria tudo novamente”. 

No somatório dos anos de convivência, muita renúncia e perdão, considera dona Leila, mas também um tanto de cumplicidade: “Casamento feliz? É eu me encontrar sempre, no meu marido. Ele me entender profundamente. É muito gratificante quando a gente encontra, no outro, o respaldo daquilo que a gente imaginou”.

Assim, o despachante Fabrício do Nascimento Bastos, 26, espera. Solteiro há um ano, depois de namorar – sério – durante metade da vida, ele deseja uma companheira definitiva para seguir a outra metade do caminho. Para colocar em prática o que ele tomou como princípio: quer namorar, noivar e casar, como manda o figurino e a religião católica. “Bem tradicional”, sublinha.

Fabrício começou a namorar “até precoce”, diz, aos 13 anos. Um relacionamento estável, “com compromisso de ir na casa, ter família envolvida”, e que se esgarçou por oito anos. Terminaram algumas vezes, é verdade, ao sabor da inconstância da adolescência. Mas Fabrício diz que sempre manteve relações de, pelo menos, dois anos. “Eu ainda não sabia viver a solteirice”, reconhece.

Três namoros longos depois, o jovem se recolhe aos pensamentos. “Paquerar tem sido uma tarefa complicada. Primeiro, porque trabalho”, explica. “Até mesmo na igreja não tenho uma comunidade, essa possibilidade de paquerar muito. Quando me aproximo de alguém, é mais das pessoas amigas do passado, que voltam a ter contato. Sou mais caseiro, de me resguardar até para me proteger um pouco. Tenho uma responsabilidade de não errar”, completa.

Fabrício aproveita o ano de solteiro para passar a limpo suas teorias sobre o amor: “Esse tempo tem me ajudado nessa jornada de autoconhecimento, de compreender a realidade, traçar objetivos, conceitos, enraizar, ainda mais, os preceitos dentro de mim”. Ele quer unir “o compromisso e a intenção de fazer o outro feliz” com a vida real. Quer um namoro mais “virtuoso, do tamanho do coração”, nos tempos modernos. Quer prudência nas paixões. E mais: quer a harmonia dos desejos com a moral judaico cristã.

Notícias Relacionadas